Nesta porção (parashá), da Bíblia, abordaremos a בִּגְדֵ֧י כהונה bigdei kehuna, as Vestimentas Sacerdotais.
No Êxodo 28 Arão é separado para exercer o Sacerdócio Levítico. Mas o texto Bíblico continua, e, traz em detalhes como as vestes de Arão deveriam ser confeccionadas, quais materiais Moisés teria que usar para fazer as roupas do Sumo Sacerdote Hebreu.
"E farás vestes sagradas a Arão teu irmão, para glória e ornamento." Êxodo 28:2"E farão o éfode de ouro, e de azul, e de púrpura, e de carmesim, e de linho fino torcido, de obra esmerada." Êxodo 28:6
Em uma leitura superficial destes versos, não é possível detectar uma mensagem maior, que pudesse justificar tamanhos detalhes que são fornecidos para o modelo das roupas Sacerdotais, a não ser que examinemos as camadas mais profundas destas palavras.
A Lei de Shaatnez
A Tradição Oral, através dos estudos rabínicos, afirma que a "púrpura" e o "carmesim", usados nas vestes de Arão, eram feitos de Lã. Aparentemente, as instruções para se usar a púrpura e o carmesim na confecção dessas vestimentas sagradas, podem ser consideradas contra a Lei de Deus e auto-contraditórias.
Isso porque o "linho" também está presente nas vestes sacerdotais, e há uma ordem divina, expressa para não se usar Lã e Linho na mesma roupa:
"Não te vestirás de diversos estofos [שַֽׁעַטְנֵ֔ז shaatnez] de lã e linho juntamente." Deuteronômio 22:11
Esses mandamentos aparentemente contraditórios levantam diversas questões: Porque Deus proibiria que os Israelitas usassem em suas roupas tecidos feitos de Lã e Linho, conjuntamente?
E porque Ele daria uma ordem contrária, para que as Roupas de Arão contivessem esses dois elementos ora proibidos na Sua própria Lei?
As Vestes do Sumo Sacerdote.
A proibição de usar Lã e Linho combinados na mesma roupa é conhecida como a Lei de שַׁעַטְנֵז Shaatnez, uma palavra presente no livro de דְּבָרִים Devarim - Deuteronômio 22:11.
Essa Lei é de difícil entendimento por fazer parte de um conjunto de regras chamados na Bíblia de חֻקִּים֙ chukim - Estatutos. Os chukim (lê-se ruquim), são Estatutos que tem por característica a não revelação dos motivos de forma explícita ou lógica do que há por detrás do seu enunciado.
São diferentes dos מִּשְׁפָּטִים Mishpatim, Leis em torno dos Dez Mandamentos, que são mais aparentemente Lógicas, que regem relações entre as pessoas - como por exemplo "Não Matarás".
Chukim são Leis que operam no que vai além da nossa compreensão, não são Leis intuitivas. São mandamentos simbólicos, que representam ideias muito maiores do que imaginamos.
E a Lei do Shaatnez - para não usar Lã e Linho ao mesmo tempo - é um grande exemplo. A Lã vem do reino animal, enquanto que o Linho vem de uma planta herbácea, do reino vegetal, ou seja, da terra (assim como o algodão e o sisal).
E a Midrash (histórias simbólicas), por meio da Tradição Oral, explica que esses dois elementos têxteis representam dois indivíduos, dois domínios, dois reinos:
"E deu à luz mais a seu irmão Abel; e Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra." Gênesis 4:2
Caim era agricultor, e Abel um pastor. Eles tentaram servir a Deus por meio de ofertas, sacrifícios que trouxeram perante o Senhor. Era a primeira vez que alguém traria um oferta, como meio de chegar mais próximo de Deus.
De certa forma, a oferta deles é algo que foi transmitido através do tempo, e que faz lembrar do sistema sacrificial do Sacerdócio Levítico.
"E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor.E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante." Gênesis 4:3-5
Muito embora os dois irmãos esperassem servir a Deus, a inveja entrou entre eles de forma tal que Abel acabou sendo vítima da ira descontrolada de seu irmão. A Midrash explica que como resultado desse assassinato, uma nova Lei foi introduzida no mundo.
Uma Lei que preserva e separa os domínios, os mundos de Caim e Abel, que neste sentido são representados pela Lã e pelo Linho. Lã de animal - Abel. Linho vegetal - Caim.
Com o pecado veio a expulsão do homem do Éden - o jardim de Deus - o que levou à imperfeição do ser humano e a separação de seus irmãos. Hoje o homem tem dificuldade em amar ao seu próximo - que é seu irmão - todos descendem de Adão e Eva.
A proibição da Lã e do Linho fala de não estarmos em posição de despertar nenhum tipo de sentimento que leve à mágoa, o rancor, à ofensa e nem do assassinato do próximo.
"Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno." Mateus 5:22
Mas temos que vigiar, sabendo que essas duas naturezas foram separadas, temos que compreender os pontos fracos dos nossos irmãos. Lã e Linho, Caim e Abel falam das diferenças que podem vir a existir entre os homens.
Não raramente temos diferenças com os diferentes - aqueles que não são como nós somos, que não tem a mesma filosofia de vida, que enxergam o mundo de forma não igual à nossa.
O desconhecido sempre tem a capacidade de despertar Medo e Eles, os diferentes, logo passam a ser vistos como ameaçadores - o que geralmente causa divisão e separação entre as pessoas.
Lã e Linho nas Vestes Sacerdotais
Porém, o Sumo sacerdote Arão recebe ordem de Deus para usar Lã e Linho em suas vestimentas - porque a reconciliação vem de Deus.
O Sacerdote usa as suas vestes contendo esses dois elementos como símbolo de reconciliação, do resgate total do senso de irmandade entre os homens, de que um dia com a regeneração do homem, finalmente "Caim" e "Abel" possam estar lado a lado, servindo a Deus em verdade e humildade, sem inveja, sem a violência que é tão comum às religiões pelo mundo afora.
As roupas de Arão, contendo Lã e Linho, falam de uma profunda união que supera as diferenças, da volta ao estado original, em santidade, que foi reconquistada no sacrifício eterno da cruz. Pois o sacerdote fazia a expiação dos pecados por meio do sangue.
E por causa do sangue da expiação, era permitido ao sacerdote unir esses dois reinos, e se vestir com roupas que simbolizavam a união da humanidade como irmãos. O sangue pagava o preço da reunificação de Caim e Abel.
E o sangue de Jesus, pagou todo o preço para que nós pudéssemos ser novamente reunidos em um só corpo, em irmandade, em amor, no corpo de Cristo, Nele tudo está pago, tudo está consumado. O preço da união dos irmãos foi pago de uma vez para todo o sempre.
Caim e Abel são diferentes - um é agricultor, o outro é pastor de ovelhas. Nós também temos nossas diferenças.
Mas no sangue de Jesus, "Caim e Abel" não são mais inimigos, voltam a ser irmãos. Por mais diferenças que tenhamos uns para com os outros, em Jesus nós somos outra vez irmãos.
Jesus como nosso Sumo Sacerdote, carregava em Suas roupas a Lã e o Linho, unindo novamente todos os filhos de Deus, que andavam dispersos pelo mundo.
"E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito." João 19:30
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